quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ainda não aprendi. Mas, é possível?


Tenho feito muita retrospectiva ultimamente. E me deu uma tristeza danada por constatar, enfim, que a depressão fez parte da minha existência a partir dos meus 14 anos. Nessa idade, comecei a trabalhar fora, já registrada em carteira. Fazia e faço parte de uma família pobre, pai metalúrgico, mãe dona-de-casa e completamente doente mentalmente. Ver sua mãe louca a vida inteira e sendo ela o ser mais limitado que você já viu na vida é muito triste. Não encontro uma palavra pior que triste, porque é isso que sinto: uma profunda tristeza. Diante de tanta dificuldade (mas não nasci assim; vou relatar minha vida até os 09 anos e ai verão), vi por mim mesma que precisa trabalhar para ajudar. Havia uma empresa perto de casa que aceitava crianças. Bom, nessa época o país permitia que essas crianças trabalhassem, por isso a empresa as contratava. Pelo menos as registrava em carteira. O fato que nos interessa é que creio ser a partir daí que iniciei a queda. A partir daí o gráfico do meu estado de espírito ficou maluco, subindo e descendo, descendo e subindo. Olho para trás, hoje, e vejo como meu peito doeu a vida toda e vejo também o esforço tremendo que fiz para parecer equilibrada, pelo menos diante das pessoas. Não queria que elas percebessem a minha alma sofredora. Eu consegui e consigo até hoje. Mas, atualmente, a coisa está mais perigosa, porque penso em morrer com muita frequência. Antes eu queria vencer na vida e afastava a ideia de morte.

Ainda não consegui acordar cedo. Na segunda-feira, iniciou em casa uma faxineira. Ela chegou às 07:40 da manhã e fui obrigada a pular da cama. Era a primeira vez dela. Muito boa, por sinal; revirou o apto. todo, limpou até as frestas, deixando aquele ar de pureza. Que bom! Que abençoada! E um humor de fazer inveja a qualquer depressivo. Fico observando essas mulheres batalhadoras, que saem de casa cedo e encaram um trabalho pesado desses, sem reclamar de nada. Pelo contrário, felizes, dispostas, sempre com um sorriso no rosto, sem nenhum receio de encarar o que quer que se peça. Eu fiquei maravilhada! Não pela limpeza em si, mas pela disposição, pela felicidade da senhora. Parece que o peito delas não dói, que ficam tristes sim, por serem humanas, mas uma tristeza normal, não essa que sentimos. Eu queria ser assim. Nunca fui. 

Pois bem. A senhora chegou, levantei no horário que sempre quis levantar (um pouco antes das 08:00 da manhã), o dia rendeu e não senti remorso. A depressão amainou. Apesar do horário, não senti sono durante o dia. À noite, estava ótima, com muita disposição. Assisti ao meu seriado preferido, no canal GNT, que terminou à meia-noite. Tinha louça para lavar. Resolvi. No final da lavagem, tomei um stilnox, para ir fazendo efeito. Por que? Eu percebi que não ia dormir, pois a mente estava acelerada. Deitei 15 minutos depois do remédio e fiquei apavorada: mesmo com o Stilnox, eu não dormia. Acho que demorou uns 40 minutos ainda!!! A mente não parava e o remédio não fazia efeito. Lembrei-me do Michel Jackson, que num ato de desespero pediu ao seu médico para aplicar uma substância anestésica para ver se conseguia, depois de várias outras tentativas com outros medicamentos. Que horror! Em um determinado momento, que a gente nunca sabe qual, adormeci, mas acordei algumas vezes. Preocupei-me bastante. O medo: que o Stilnox não fizesse mais efeito. Conclusão: acordei cedo, mas tive um pico de euforia, que não me permitiu dormir como as pessoas normais fazem. Por essa e tantas outras, cheguei mesmo a conclusão de que não sou normal. Demorei 38 anos para admitir isso. Até hoje é difícil e ainda vai continuar sendo. 

Deixe-me abrir um parênteses: não costumo tomar Stilnox para dormir. Apenas lanço mão dele quando há uma crise e vejo que não vou mesmo conseguir. Ás vezes passo até dois meses sem precisar usar. Uma cartela de 20 comprimidos  já chegou a durar quase um ano, porque, com medo, muitas vezes tomava apenas meio comprimido. Porém, depois daqueles e-mails, passei a tomar com frequência. Não meio, mas um inteiro. Precisei pedir receita para minha dermatologista, aproveitando uma consulta, para comprar mais.  (a psiquiatra está na minha cidade de trabalho). Havia trazido pouco. Eu não esperava entrar em crise, em férias, e na minha cidade idolatrada. 

Na terça-feira, acordo tarde. Havia marcado alinhamento e balanceamento do carro para às 10:00, justamente para me forçar a sair da cama. A ideia era esperar em um shopping por perto. Não consegui arrumar as coisas para tal e pedi ao pessoal para me retornaram para casa, enquanto o serviço não era feito. Tinha dentista às 14:30 h. O almoço atrasou, tudo atrasou e saí correndo, deixando minha cozinha suja, com cheiro de almoço, e um monte de louças para lavar. Me aborreci comigo. É assim: saindo da cama tão tarde, ocorre um efeito cascata, numa sequência de acontecimentos desastrosos. 

Hoje, quarta, novamente acordo tarde, pois fui dormir tarde. Tinha compromisso às 13:30 h e saí da cama às 10:30 horas. Novamente o efeito cascata. Mesmo assim, cheguei pontualmente ao meu compromisso. Porém, a qualidade podia ser outra. 

Creio que preciso de um programa sério para acabar com isso. Pena que não existem associações como a do AA, dos vigilantes do peso, para ajudar nisso. Eu frequentaria. Apesar de tudo, tenho capacidade de ação para outras coisas, vou à luta, mesmo morta muitas vezes, mas não consigo vencer isso. Hoje levantei-me depressiva novamente. Parece que meu organismo se descompensa agindo assim. Não sei. Parece que não levanto porque não sou feliz. Não sei. Eu queria saber. 

Aurora 

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